Vazio
sanitário caracteriza-se por um período de ausência de hospedeiro (material de
propagação) para pragas ou doenças no campo; no caso da broca-do-café, como ela
precisa obrigatoriamente dos frutos para propagar-se e multiplicar-se, seria a
definição de um período de ausência de frutos (no pé ou no chão), impedindo a
propagação da praga, reduzindo a pressão de infestação entre safras. É uma
prática muito interessante, que vem se mostrando eficaz em cultivos como soja,
feijão e algodão para compor o manejo de outros problemas. No café, poderia
reforçar ainda mais o manejo da broca além do monitoramento bem feito,
utilização de inseticidas e adjuvantes eficientes e qualidade de aplicação. O
vazio sanitário é um conjunto de práticas culturais que iniciam-se com uma
colheita bem feita, uma vez que a mecanização na derriça intensificou-se muito
nos últimos anos e com isso tivemos um aumento na sobra de café nas lavouras.
Na sequência fazer o “repasse” (mais de um se necessário), depois lançar mão da
utilização das práticas de varrição e rastelação (existem equipamentos e
implementos modernos para tal); tudo na tentativa de eliminar todo e qualquer
resto de café que possa sobrar. Lembrando que esta remoção de frutos
remanescentes gera receita através da comercialização deste café de qualidade
inferior, mas que mesmo assim deve ser suficiente para cobrir o custo
operacional. Atenção para lavouras esqueletadas no ano anterior, pois pode ter
sobrado alguma gema viável, a qual pode florescer e gerar frutos, possibilitando
a multiplicação da praga.
Por
fim, podemos aproveitar outras práticas já existentes como a destruição dos
restos culturais na entrelinha do cafezal com a utilização de trinchas
mecânicas (para áreas que foram esqueletadas, por exemplo), o que destruirá
também eventuais frutos que possam ter sobrado no chão; outra prática existente
é a desbrota, onde podemos aproveitar para remover frutos/flores remanescentes
nos pés de café; ainda temos a “distribuição de cisco” para debaixo da saia do
cafeeiro, protegendo o solo e promovendo o desenvolvimento de diversos fungos
benéficos, dentre eles a Beauveria Bassiana, que pode suprimir o
desenvolvimento da broca. Enfim, o vazio sanitário deve se tornar uma prática
difundida, conhecida e executada, para compor o manejo desta importante praga
na cafeicultura.
Lembrando
e reforçando que para o manejo eficaz da broca-do-café devemos conhecer (a) a biologia da praga (ciclo, formas
biológicas, dispersão desuniforme no ataque, influência do clima), aplicar boas
práticas na (b) tecnologia de aplicação (uso de adjuvantes apropriados como
óleos emulsionáveis, eletrostática vs convencional, volume de calda adequado,
época de aplicação), fazer o (c) monitoramento (levantamento inicial,
acompanhamento, %brocados e %brocas vivas, atenção às floradas), além do (d)
Vazio Sanitário, que acabamos de expor (colheita bem feita, repasse, varrição e
rastelação, trincha, desbrota, distribuição do cisco); por fim, utilizar (e)
produtos químicos (inseticidas) registrados visando sempre um manejo integrado
de pragas (MIP) e/ou manejo integrado de resistência (MIR).
Atenciosamente,
André Luís Mattiello
Eng. Agrônomo
Gerente de Desenvolvimento Técnico de Mercado para os
cultivos de Café, Cana-de-açúcar e Citros na BASF.