Fair Play na comercialização mundial de café
é apenas merchandising.
Várias
fontes divulgam a previsão de safra de café do Brasil, e, existem uma margem de
erro natural dentro destas previsões, pois é muito difícil quantificar
exatamente o número de frutos nas arvores, o tamanho e peso de suas sementes,
enfim, o real rendimento de café em grão por talhão, por fazenda, por
município, por microrregião e por região, enfim, o Brasil é um país com
dimensões continentais.
Então
temos que sair do campo de previsões e saber realmente quanto que se colheu de
café no Brasil, e, isto só é possível quantificando os estoques de café em determinada data, e,
sabendo quanto foi o uso / desaparecimento de café total, isto é, quanto foi as
exportações e quanto foi o consumo interno, também é necessário saber quanto
foi a importação de café, após estes dados uma simples equação mostra o
"quantum" foi efetivamente produzido, e podemos deixar
o campo das previsões, para a "verdadeira" realidade, por isto a obrigação de contagem
de estoques realizados pela CONAB anualmente.
Assim
sendo, no período de 12 meses, temos os dados abaixo:
Estoque do Brasil em 31 de março de
2016 = 15.078.997 sacas, fonte CONAB;
Estoque do Brasil em 31 de março de
2017 = 10.121.405 sacas, fonte CONAB;
Exportações Brasileiras Abril16 até
Março17 = 33.488.053 sacas, fonte CECAFÉ;
Consumo interno Abril16 até Março17 = 21.200.000 sacas, fonte ABIC;
Importações de café Abril16 até
Março17 = 5.900 sacas, fonte MDIC/Secex.
Desta
forma temos que para um uso total de 54.688.053, que é a soma das Exportações +
Consumo interno, houve uma diminuição dos estoques de 4.957.592 sacas e uma
importação de 5.900 sacas.
Matematicamente
conclui-se que a Produção Brasileira de Café na safra 2016/17 foi de 49.724.561
sacas.
A
Organização Internacional de Café deveria trabalhar com dados oficias de seus
participantes, mas, infelizmente,
publica dados errôneos sobre a real produção de café do Brasil, pois
conforme o “Relatório sobre o mercado cafeeiro – setembro 2017” divulgado em 12
de outubro, diz que a produção estimada no Brasil em 2016/17 foi de 55 milhões
de sacas, portando superestima a produção brasileira em 10,61% superior a
realidade, uma quantidade de 5.275.439 sacas a mais do que realmente foi
produzido.
Este
erro de divulgação da Organização Internacional de Café, leva a outros erros,
pois deforma a previsão de safra de 2017/18 e também a previsão de safra de
2018/19, e isto é altamente impactante nas cotações internacionais do café.
Chamo
a atenção pois, haverá erro de avaliação
da safra 2017/18, e será muito maior, pois, de acordo com enquete à vários
produtores, das mais variadas regiões, a diminuição de produção em relação
safra anterior é bastante elevada, no Cerrado e Alta Mogiana encontra-se
menos 40% de produção em relação ao ano anterior, no Sul de Minas e
Baixa Mogiana, encontra-se uma safra menor na grandeza de menos 25 %.
Desta
forma, e a grosso modo, ponderando todas as regiões produtoras do Brasil,
conclui-se que, uma produção menor em 20% é plausível em relação safra anterior,
já incluindo o aumento de produção dos conilon.
Num
singelo exercício de matemática, podemos dizer que baseado na safra colhida em
2016/17 que foi de 49,72 sacas de café, a safra de 2017/18, por efeito da
característica de bienalidade, tendo uma produção cerca de 20% menor, chega-se
a uma produção estimada de apenas 39,78 milhões de sacas, números inferiores
aos 44,77 milhões previstos pela CONAB.
Notar
que os primeiros 3 meses de exportação de café do Brasil no ano safra 2017/18,
isto é, Julho/Agosto/Setembro de 2017, o Brasil exportou apenas 6.764.858 de
sacas, portanto inferior a 25% do mesmo período do ano de 2014 e 2015, e menos
16,26 % que no período de 2016.
Em
sendo realidade uma produção próxima de 40 milhões de sacas nesta safra que se findou,
e praticamente com inexistência de estoques de safras passadas, novamente a matemática
nos leva a lógica que as exportações de cafés do Brasil no ano safra de 2017/18,
isto é, entre Julho de 2017 até Junho de 2018 vão diminuir muito, e tendo a
florada de café seu auge em 10 de outubro, só teremos algum volume de cafés
novos a partir da segunda quinzena de Junho de 2018.
Então, a informação que os produtores de café estarão retendo mercadorias e formando
estoques não é verdadeira como propaga alguns participantes do comércio
internacional, a pseudo retenção se deve ao fato de menor quantidade produzida
pelos cafeicultores brasileiros.
Sobre
a safra de 2018/19, devido a bienalidade, poderemos estimar com um potencial de
produção próxima a safra de 2016/17, pois não houve aumento da área plantada, e,
então poderá haver um aumento na produção de conilon, mas em contrapartida,
estando o clima hostil para as regiões cafeeiras de arábicas poderá haver uma
diminuição na produção dos arábicos, desta forma, uma estimativa de 50 milhões
de sacas é o recomendável.
Assim
sendo a prudência nos leva a uma somatória das 3 safras em:
2016/17
= 49,72 milhões;
2017/18
= 39,78 milhões;
2018/19
= 50,00 milhões.
Totalizando
em 139,50 milhões.
Porém, os grandes players do mercado cafeeiro mundial divulgam estimativas muito
superiores, que nestas 3 safras alcançariam a somatória de 162 milhões de
sacas, portando 22,5 milhões de sacos ou 16% maiores que a prudência nos leva a
crer.
Entretanto,
devido as informações errôneas de quantidades maiores de produção do Brasil,
corroboradas pela Organização Internacional do Café, os importadores mundiais
continuarão a comprar café no mesmo preço de 35 anos atrás.
Para
aqueles que acreditam em “fair play”
na comercialização mundial de café, esqueçam, isto é apenas merchandising.
Convido
o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA, a CONAB, a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA, o Conselho Nacional de
Café - CNC, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil - CECAFÉ, a
Organização Internacional do Café - OIC e a todos aqueles que se interessem e
possam contribuir com a cafeicultura, a se manifestarem sobre o disposto acima.
Atenciosamente,
Marco Antônio Jacob