Foto: Dr. Wanderlino foi o
introdutor da cafeicultura no sul da Bahia. Hoje, queixa-se de perseguição do
Ministério do Trabalho.
“Homem
do Café’ e ‘agora’ também do açaí, reclama de perseguição do Ministério do
Trabalho, anuncia o corte de 450 mil pés de café e fala da Ceplac, UESC e das
horarias recebidas. “Esses cerca de 800 empregos desses trabalhadores que eu
dispensei, o juiz do Ministério do Trabalho que arrume outro emprego para
eles”.
Muito
antes do açaí virar febre no mundo todo, um visionário resolveu introduzir a
fruta numa região inimaginável para a maioria dos produtores. Ainda na década
de 90, este mesmo homem já havia vislumbrado uma outra grande oportunidade:
plantar café nas terras férteis e chuvosas do sul da Bahia. Ambas iniciativas
deram certo, mas, neste exato momento, um desses ciclos ‘morre’, enquanto o
outro.
Esse
visionário, natural do Espírito Santo, ícone do café conilon capixabense e
introdutor da cafeicultura na região ‘cacaueira’, está encerrando uma tradição
mantida desde 1836, quando sua família de ascendência Portuguesa e Suíça,
começou a cultivar café. “Fui incentivador do plantio do café no sul da Bahia.
Estou interrompendo essa tradição familiar este ano, pois não posso mantê-la
com prejuízo”, conta aos 76 anos, o doutor Wanderlino Medeiros Bastos,
Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
famoso criador da muda clonal do café, ex-presidente da Cooabriel – a maior
cooperativa de Café Conilon do Brasil, e que reside na região há 22 anos.
A
‘derrubada’ noticiada pelo produtor, mais que um prejuízo empresarial, é um
dano socioeconômico incalculável para a economia regional. Em tempos de crise e
de clamor pelo desenvolvimento e geração de renda, o renomado produtor decidiu
cortar os 450 mil pés de café que possui na sua propriedade, no KM 564 às
margens da BR 101, no município de Arataca. Esse corte atinge também e com
maior gravidade, centenas de empregos que eram gerados pela cafeicultura.
“Sempre
cumpri com todas as leis trabalhistas. Recentemente paguei uma multa do
Ministério do Trabalho de R$ 650 mil. Eles chegaram aqui armados com a Polícia
Federal. Meu filho foi recebê-los e cumprimentá-los. Eles colocaram as armas em
cima dele. Intimam direto. Eles chegam ao ponto de inventar questionamentos na
hora. Meu advogado chega lá e eles não sabem nem o que vão perguntar. Inventam
questionamentos na hora, para pedir. A minha culpa é gerar emprego demais. Eles
dizem: ‘Ele tem muito trabalhador, não tem como não ter erro’. Mas, meu erro é
ser correto e pagar tudo em dias. Eles vão aumentar a perseguição (depois dessa
matéria), mas, mais do que perseguem, não é possível”.
“Cortei
esse café todo, porque, em parte, só sobrevive aqui quem não tem empregado com
carteira assinada. Quem tem 20 ou 30 funcionários, ninguém perturba. Eles
pensam que quem planta café é rico. Se você vender uma safra e colocar o
dinheiro do banco, quando chegar na outra colheita, você não tem mais nada, por
causa dos autos custos da lavoura. Mas eles comparam: uma saca de café custa R$
350,00. Um saco de milho não chega a R$ 35,00. Então quem planta café é rico”.
O
maior produtor de café da região, queixa-se das ações e da ‘petulância’ do
Ministério do Trabalho. “No nosso pais, não existe segurança pública. Existe
segurança dos poderes, sejam do Judiciário ou do executivo. Ficam com quatro ou
cinco policiais armados e se acham os todo-poderosos. Dizem com todas as
palavras que não atendem ao público. Juízes e promotores acham que são mais do
que um agricultor!”, desabafa Wanderlino, num claro tom de revolta.
Dr.
Wanderlino chegou a manter, até pouco tempo, cerca de 800 trabalhadores em sua
propriedade. A grande maioria, na colheita do café. “Nunca tive nenhum
problema, sempre mantive tudo em dias, todos os direitos”. Hoje o quadro de
funcionários nas atuais atividades da fazenda, gira em torno de 50. “Estou
derrubando todos os meus pés de café. Tem muitos pés de café com frutos, porque
não deu tempo derrubar tudo, mas não vamos colher nenhum. Os empregos desses
trabalhadores que eu dispensei, o juiz do Ministério do Trabalho que arrume
outro emprego para eles”, diz.
“Agora
que criaram uma lei obrigando assinar carteira de empregada doméstica. Ela
mesma (Wanderlino chama a empregada Jeane, que acompanha essa entrevista para
confirmar), trabalha aqui há 5 anos e todos sempre tiveram a carteira assinada.
Me sinto um injustiçado, só porque tenho muitos trabalhadores”, analisa. “Aqui
eu me sinto perseguido pelo Ministério do Trabalho”, afirma.
Fonte: Folha do Cacau
24/12/2017 - 13:30:49