02/11/2017 - 10H50 - POR ESTADÃO CONTEÚDO
Drones,
aplicativos, novos sensores e inteligência artificial invadem o campo. Cerca de
45% das empresas do setor já usam técnicas com inovações digitais.
O
movimento trazido pelas inovações digitais - como internet das coisas,
inteligência artificial e outras -, que permitiram um grande salto na
produtividade com a criação da indústria 4.0, está se repetindo no campo. A
agricultura 4.0 tem conseguido ganhos no agronegócio, da pré-produção até fora
da porteira das fazendas. "As tecnologias digitais têm levado a
agricultura de precisão a um novo patamar", diz Silvia Massruhá,
chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária.
"Cerca
de 45% das empresas da área já usam alguma das novas técnicas, mas há grandes
desafios à frente, seja por conta do custo alto dessas tecnologias, pela falta
de conexão com a internet nas propriedades agrícolas ou pela baixa qualificação
de mão de obra. "Assim, satélites e drones colhem informações das
condições da agricultura, do solo e das condições meteorológicas e repassam em
tempo real para produtores e pesquisadores.
Sensores
instalados nas plantações começam a guiar tratores e colheitadeiras
automatizados, reduzindo custos e melhorando a eficiência das safras. E
diversos tipos de aplicativos têm ajudado agricultores e pecuaristas a terem na
palma da mão opções para entenderem melhor suas propriedades, suas culturas e
criações. Bem como auxiliar pesquisadores, além de formuladores de políticas
públicas e bancos a mensurar prováveis riscos para fornecer subsídios e
empréstimos.
Quer
um exemplo?
Os
exemplos práticos vêm de várias áreas. Há aplicativos que avisam ao produtor de
leite quando está na época de colocar uma vaca para ser emprenhada ou quando um
bezerro deve ser desmamado. Outro, agrega informações de 1.600 estações
meteorológicas do país e depois de processar os dados produz modelos e estudos
para várias culturas, indicando a melhor época de plantio para cada lugar. As previsões
são atualizadas diariamente, bem como os índices de seca, as probabilidades de
geada e outros fenômenos climáticos e a quantidade de água no solo. Um software
permite ainda reconhecer, por meio de fotos, pragas que podem estar assolando
as colheitas e indicar tratamentos.
Em
outra frente de trabalho, foi adaptado um modelo de simulação de plantio de
arroz, o Oryza 2000, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisa do Arroz,
das Filipinas, com os dados nacionais. Além das condições de solo e dos tipos
de sementes usados no Brasil, foram colocados no sistema dados climáticos dos
últimos 30 anos, de 51 estações meteorológicas ligadas às principais regiões
produtoras do País. "A decisão que o agricultor tomava até algum tempo
atrás com base em sua experiência e na tentativa e erro pode ser feita agora
com rigor científico e analítico", afirma Alexandre Bryan Heinemann,
pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão. Como os modelos desse projeto são mais
sofisticados, essa ferramenta é usada sobretudo por pesquisadores e para
auxiliar na tomada de decisões de políticas públicas para o setor.
Atuação
Há
tantas possibilidades e demandas - seja do Ministério da Agricultura, de
diferentes órgão públicos, de pesquisadores, de produtores e associações e
empresas de tecnologia - que a Embrapa tem ganhado novas formas de atuação. Se
antes, dedicava-se sobretudo à pesquisa e desenvolvimento, hoje, também tem
funcionado como uma facilitadora: faz a ponte entre empresas, startups de
tecnologia e investidores. "Unimos várias pontas e trabalhamos sobretudo
com inovação aberta, onde consórcios de pesquisa desenvolvem projetos de
interesse comum até determinado ponto e os parceiros usam partes em seu modelo
de negócios, reduzindo custos e melhorando a eficiência", afirma Silvia.
É
uma corrida contra o tempo, que todos os países fortes no agronegócio disputam.
Só que, enquanto EUA e Europa têm ecossistemas mais bem articulados, aqui a
pesquisa ainda sofre por falta de estrutura. O Oryza 2000, por exemplo, foi
considerado projeto de big data na Embrapa Arroz e Feijão. "Tínhamos de
rodar 24 modelos para cada dia do ano. Eram milhões de simulações que nossos
servidores não eram capazes de fazer", afirma Heinemann.